O NATAL É UMA FESTA CRISTÃ?
O último mês do ano é aguardado por várias razões: férias escolares, recesso no trabalho, décimo-terceiro salário, e, também pelas festas natalinas. As casas são enfeitadas com pisca-piscas, guirlandas são colocadas nas portas e, claro, a árvore de natal sempre recebe o destaque na decoração das salas.
O dinheiro extra que recebe-se em dezembro encontra destino certo nos shoppings, sempre lotados nesta época. O “papai Noel” torna-se o centro das atenções e dos pedidos de muitos. As celebrações natalinas ocorrem no mundo inteiro em 25 de dezembro.
Contudo, uma pergunta deve ser feita: o natal é uma festa cristã? Jesus ordenou a sua celebração? Os apóstolos celebraram? A igreja celebrou esta festa antes de tornar-se parte do império romano? Se esta festa é originariamente cristã, porque pessoas não cristãs a celebram? Se não é cristã, qual será a sua origem? Um exame das Escrituras Sagradas mostra-nos que nunca houve nenhuma ordenança ou mandamento para que houvesse uma celebração de natal nos moldes que ocorre hoje.
Os evangelhos, o livro de Atos dos Apóstolos, as cartas apostólicas (sejam paulinas ou mesmo as chamadas cartas gerais) ou o livro do Apocalipse nada falam a respeito do natal. Não se pode confundir, evidentemente, o anúncio angelical do nascimento de Jesus feito aos pastores em Lc 2:8-14 ou mesmo a grande verdade joanina que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1:14) com a festa de natal que é celebrada atualmente. As festividades natalinas, com suas árvores de natal, presépios, guirlandas e papai Noel não encontram respaldo na tradição bíblica. O natal comemorado em 25 de dezembro tem origens mais antigas que a maioria das pessoas possa supor. No hemisfério norte celebram-se os solstícios de inverno durante este período do ano, no qual o sol está angularmente mais distante em relação à linha do Equador. As noites são muito longas.
Os povos politeístas que habitavam os países do hemisfério norte faziam oferendas nestes festivais com o objetivo que o sol retornasse ou “ressurgisse”. Em Roma, centro do antigo império, havia as “saturnálias” em adoração a saturno, a mitra e ao próprio sol. Quando o imperador Constantino decretou o fim da perseguição aos cristãos e o cristianismo tornou-se a religião oficial do império romano, estas festividades pagãs incorporavam o calendário anual, sendo celebradas no início do solstício de inverno por volta do dia 22 de dezembro. O império romano, agora “convertido” ao cristianismo, tomou a iniciativa de incorporar elementos cristãos a uma festividade completamente pagã, estabelecendo a conexão entre o nascimento de Jesus e o dia 25 de dezembro, entre o Filho de Deus e o deus sol. Em outras palavras, a origem do natal está no sincretismo religioso, onde elementos cristãos misturaram-se a elementos pagãos. Uma festa pagá já existente mudou de nome, a fim de ser cristianizada. A igreja, agora chamada de Católica Apostólica Romana, passou a fazer parte do status do império, tendo milhares de “novos convertidos” que viviam imersos neste ambiente de paganismo. A tradição natalina, portanto, é pós Constantino, ou seja, depois do séc IV d.C.
A tradição natalina tem atravessado os séculos e tem passado por mudanças ao longo do tempo. A figura de um velho bonachão remonta ao santo católico de nome Nicolau, um monge turco que apreciava fazer caridades. Na década de 30 do século XX, a Coca-Cola vai dar roupas vermelhas ao velhinho através dos seus anúncios publicitários. Deixando um pouco a origem do natal, olhemos agora a festividade natalina hoje. Qual é a motivação da celebração da festa? Será gratidão pelo nascimento de Jesus? Esta é uma época de consumismo e de aparências. Muitos, mal recebem seus salários com o extra de dezembro, correm aceleradamente para as compras. Os shoppings ficam insuportavelmente lotados.
Gasta-se o que não se tem, mas a fatura sem tardar chega em janeiro. Neste afã de consumir, milhares ficam endividados por causa da compulsão de comprar. As mesas devem estar fartas, com muita comida e claro, bebidas, muitas bebidas! Verifique o índice de acidentes de carro causados por embriaguez neste período do ano. É surpreendente e lamentável. Precisamos lembrar que a vida de um homem não consiste na abundância de bens que se possui (Lc 12:15) e que a vida é mais que o alimento e o corpo mais que as vestes (Mt 6:25). Infelizmente, muitos deixam de contribuir com suas igrejas neste período.É claro que estar com a família e amigos em uma boa mesa é bênção de Deus. Mas se a festa é cristã, Jesus deve ser o centro. A festa deve ser culto, ação de graças. O motivo pelo qual muitos não cristãos gostam do natal é justamente porque Jesus não está presente nestas celebrações. É um natal com troca de presentes, luzes, Papai Noel, comidas e bebidas, mas sem Jesus, sem louvor e sem pensar nos mais necessitados. O final do ano é tempo de confraternização. Por isso, primeiramente nós, cristãos, devemos refletir sobre o excessivo materialismo e consumismo dos nossos dias e aproveitar esta ocasião para testemunharmos que o Salvador veio ao mundo, como um homem simples e humilde para nos reconciliar com o Pai Celestial.
Pastor Claudio Martins Mestre e doutorando em Teologia Bíblica pela PUC-Rio Professor de hebraico e exegese bíblica da FAECAD Pastor do Ministério Rei Jesus em São Gonçalo