Biriba- Leia novo artigo com Pr. Silmar Coelho
Quando garoto, sonhei em ter um cachorro. Após algum tempo, meu sonho foi realizado. Ganhei uma bolinha de algodão, rechonchuda, brincalhona, cheia de
energia, olhos vivos, e fofa. Como meu novo amigo tinha manchas pretas e brancas, meu pai me contou a história do mascote do Botafogo; ao mencionar seu nome, gostei imediatamente – Biriba.
Biriba tornou-se meu amigo inseparável. Onde estava um, lá estava o outro. O cãozinho me seguia para qualquer lugar que eu ia. No início das aulas, lá foi Biriba atrás de mim. Por mais que eu o ordenasse voltar para casa, ele teimava em acompanhar-me até o portão da escola. Pouco prestei atenção nas aulas, preocupado. Onde Biriba estaria? Será que ele soubera voltar pra casa? Estava perdido? Ou alguém o havia roubado?
Para minha surpresa, no término das aulas, ao chegar ao portão, lá estava Biriba, sentado, me esperando, como se soubesse exatamente o horário da minha saída. Mais tarde, papai me disse que Biriba havia aparecido no seu açougue; ficara deitado debaixo do balcão até perto do término das aulas. Depois, desapareceu, para ir ao meu encontro.
Desse dia em diante, eu caminhava orgulhoso com Biriba ao meu lado. Ficava ainda mais orgulhoso quando meus amigos, maravilhados, viam Biriba a minha espera, todos os dias, sempre no mesmo horário, correndo ao meu encontro no final das aulas.
Certo dia, Biriba não apareceu. Gritei seu nome, o procurei, mas nada. Fui até o açougue do meu pai e perguntei a papai se o tinha visto. O rosto de papai estava fechado, dizendo-me que alguma coisa tinha acontecido com Biriba. Papai veio ao meu encontro, colocou o braço sobre o meu ombro e começou a falar. Como havia uma infestação de ratos no mercado, Alguém colocou uma bolota de carne com veneno para ratos. Biriba, sem se dar conta, comeu a bolota, e acabou morrendo. Chorei muito.
Passado o susto, quis saber onde haviam enterrado Biriba. Queria dar um último adeus ao meu companheiro. Papai pedira a um dos empregados para enterrar Biriba. Procurei o homem. A insensibilidade do empregado fora cruel. Para poupar tempo e trabalho, o homem havia jogado o corpo de Biriba no rio que corria bem em frente ao mercado. Ele achara que a correnteza levaria o corpo de Biriba rio abaixo.
Caminhei cabisbaixo até a ponte e procurei Biriba com os olhos. Como o rio estava raso e Biriba havia caído em uma ilhota do rio, seu corpo ainda estava lá. Meu olhar parado fitava o meu amigo inerte. Fiquei muito tempo encostado na ponte, sem ação, com lágrimas descendo minha face abaixo. Todos os dias depois das aulas, eu passava pela ponte e fazia uma visita a Biriba. Vi seu corpo se deteriorar pouco a pouco, em uma longa e dolorida despedida. Apesar do final triste desta história, aprendi muita coisa.
As dores, por piores que sejam, sempre passam. O coração tem um poder extraordinário de recuperar-se e ser curado.
A vida é feita de momentos de sofrimento, mas a alegria se faz presente com maior frequência do que a dor. Ainda hoje sou embalado pelas lembranças felizes de Biriba. Ainda posso vê-lo sentado, parado, me procurando com seu olhar de carinho, e o rabo abanando, no final das aulas.
Tragédias não devem fazer a gente parar de viver e amar outra vez. Por mais que a vida seja dura, vale a pena viver. É melhor estar aberto para o amor do que viver fechado e aprisionado dentro da decepção.
Culpar as pessoas por causa das coisas ruins que acontecem não nos faz melhores. Melhor olhar as coisas ruins como acidentes de percurso, nunca como castigo ou obra de gente mal intencionada.
Não adianta procurar Biriba em outros cachorros. Se assim o fizer nunca estarei satisfeito e minha busca jamais acabará. Cada animal, cada coisa, cada momento, ou cada pessoa é única, insubstituível e diferente. Devo procurar o melhor em cada uma, sem fazer comparações ou exigir delas o que não podem me dar.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor,
destes três; porém o maior deles é o amor.
1 Coríntios 13:13
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