“Temos, hoje, um problema no STF”, afirma o desembargador William Douglas
O desembargador federal e professor universitário William Douglas é o convidado do novo episódio do podcast PodCrê, que já está disponível no YouTube e em todas as plataformas de áudio. Ele teve seu nome ventilado para o Supremo Tribunal Federal (STF) quando o presidente Jair Bolsonaro, em 2021, prometeu indicar um “terrivelmente evangélico” para a vaga do ministro Celso de Mello.
Com sua experiência na área do Direito, Douglas comentou sobre a atual atuação da Corte.
– A Constituição diz que os poderes são três poderes independentes e harmônicos entre si e e o que nós vemos hoje no país é que essa harmonia não está funcionando. Você tem uma hipertrofia do STF que precisa ser corrigida – opina.
Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho e bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense, William Douglas aproveitou para esclarecer alguns temas relacionados à religião, política e sociedade, a começar pela real definição do que é o Estado laico.
– O Estado laico não é ateu. Você tem o direito de ter a sua religião. Existem dois tipos de Estado: o laico e o laicista. No Estado laico, as pessoas têm o direito de viver sua religião em espaço público. No Estado laicista, que é o laicismo francês, esse Estado exclui a religião do espaço público. Você não pode viver a sua religião no espaço público, mas na sua casa e na igreja pode. O Brasil é um Estado laico e tem várias passagens na Constituição em que a religião ajuda o Estado. O Artigo 5º diz, claramente, que tem que ter assistência religiosa no estabelecimento de internação coletiva – explica.
Douglas ainda reforça que todo cristão precisa estudar a Constituição para aprender a lidar com os seus direitos.
– Os cristãos precisam estudar e aprender a lidar com a política. Eu tenho duas cidadanias! Eu tenho minha cidadania do Reino dos Céus, mas eu também sou brasileiro e a Constituição me dá a liberdade religiosa, o direito de crer e a liberdade de pensamento. A liberdade religiosa inclui, inclusive, você falar do seu Deus para outras pessoas. O proselitismo religioso, que é você evangelizar, está garantido na Constituição. Então, as pessoas precisam aprender a usar a lei – afirma o magistrado.
O CRISTÃO E A SOCIEDADE
Ainda sobre a relação dos cristãos com a sociedade, William Douglas frisa que é importante que eles aprendam a conviver com quem pensa diferente e vice-versa.
– O cristão também é cidadão brasileiro e, quanto mais o cristão se aproxima de Deus, ele vai se aproximar e estar mais preocupado com o próximo. A Bíblia já disse que, no final dos tempos, o amor de muitos iria esfriar e você vê isso em sociedades não cristãs. Com todos os defeitos da nossa civilização cristã ocidental, esse ainda é o lugar onde você tem mais liberdade para a mulher e para o gay. Vai lá para Gaza ou para o Irã para ver o quê que vai acontecer com você. O pessoal reclama muito do Cristianismo, mas a sociedade cristã dá muito mais liberdade por ter essa cultura de ajudar – pontua.
Fazendo uso da Bíblia, William Douglas também destacou que o Cristianismo não se preocupa apenas com os seus, mas, principalmente, com quem difere do seu pensamento ou doutrina.
– Existem discussões que são parte da sociedade moderna como o movimento negro, o movimento LGBT e o feminismo; mas, eu como cristão, por exemplo, não odeio mulher e nem tenho nada contra elas. A Bíblia fala para não ser machista e dá um monte de ordem para o homem ser respeitoso com a mulher. A Bíblia fala que racismo é pecado, que a gente tem que respeitar todo mundo. Se você reparar, o movimento negro só se preocupa normalmente com as causas dos negros. Os ativistas LGBT agem atrás do problema deles. As feministas trabalham buscando direitos só das mulheres. Dentro do Cristianismo, a gente não se preocupa só com os nossos. A gente se preocupa com a pessoa que não compartilha a nossa fé. Eu sou branco e me preocupo com o negro. Eu sou homem e me preocupo com a mulher. Eu não sou gay e não quero que haja homofobia – finaliza.